sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

uma voz mais agradável que o silêncio

Da noite, surge o vulto
Sozinho entre uma multidão
Um mero conhecido adulto
Da inexperiente solidão.

Caiu bruscamente no mundo
E enquanto perdeu os sentidos
Ali jaz o defunto
E os companheiros abatidos.

O corpo imóvel no chão
As lágrimas dinâmicas na pele
A suave donzela disse "não...
Sintam o ar morno que ele expele..."

O ar tornou-se denso
O momento era espontâneo
Mais agradável que o silêncio
Apenas duas vozes em simultâneo.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

recluso

Tenho a mente tão branca
E o meu corpo sente-se sujo
A minha porta já não tranca
E mesmo assim prende um recluso.

Com um acesso ao mundo restrito
Através de uma grade férrea
Um defunto jaz circunscrito
E ainda acima da via térrea.

Foi-lhe dito um destino traçado
Tão banalmente descrito
Com um olhar cruzado
Tentou ler o efémero manuscrito.

Uma criatura cruelmente amaldiçoada
Apenas uma criança imatura
Com a garganta amordaçada
e queimaduras pela cintura.

Tenho a minha existência tão imunda
E o meu físico um degredo
A princesa perfeita não o ajuda
Quer mantê-lo em segredo.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

diva colossal

Não era mais que uma princesa
encantadora, divinal, uma diva
nasceu longe do degredo
como que em segredo
um dia ia ser rainha.

Lavou roupa no tanque
estendeu-a em canas velhas
bateram-lhe até haver sangue
rebolou pelas telhas.

Guardou rebanhos de ovelhas
pisou pintainhos no quintal
com isso levou tareias
ela diz que era banal.

O reino dela era modesto
ela sim era colossal
agora dá o corpo ao manifesto
um ridículo desejo carnal.

Perdeu o hábito de ser amada
foi do homem que a maltratou
ao longo dos anos não disse nada
perdeu toda a piada
e ela já o deixou.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

age por mim

Apalpa-me o corpo
Incendeia-me a alma
Desfaz-me em pedaços
O odor fresco da calma.

Ironiza a nossa vida
Parte copos como passatempo
Suga o poder quente
Que voou com o vento.

empurra-me com brutidade
faz-me cair no chão
levanta-me pelo braço
eu estou aqui à mão.

Age com normalidade
Sê diferente de todos
transforma a banalidade
num pedestal de bobos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

criancinha imatura

morreu encarcerado
um embriagado vivo
enlouqueceu magoado
com um olhar esquivo.

interpretou sentimentos
falhou por momentos
quis algo não cativo.

não é mais que uma criança
imatura, banal, sem esperança
deixou-me apenas na lembrança
o dia final, o da sua auto-matança.

criei um idolo prematuro
destrui-o ainda por render
tornou-se algo impuro
nem vale a pena crescer.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dado do... destino?

Lembrei-me que lançaste o nosso dado
Dono do acaso que define o destino
Calhou face par, nada de inesperado
Jogámos sempre com um dado viciado
É a tua febre de ser bem sucedido.


Saindo dois, temos direito a um amor
Saindo quatro, recebemos um abraço
Saindo seis, temos um dia de calor
O dado viciado foi lançado no espaço.

A face um é de impossível solução
Assusta a maioria da multidão
Tiremos os pensamentos do caixão
Os ímpares não são o que queremos.

A face três é de ambígua definição
É como que uma espécie de traição
Um punhal nas costas, na perfeição
É de dúbia descrição, não sabemos.

A face cinco é muito manipuladora
É boa, sabe bem, mas constrangedora
Ora é pesadelo, ora é sonhadora
Mas nunca é uma face vencedora.