sábado, 18 de junho de 2011

Estado morto

Os comprimidos eram rosados
a garrafa estava vazia
A vontade dos condenados
Era a de morte em razia.

Os olhos já semicerrados
A boca um tanto espumada
Deitada em papéis embrulhados
Parecia estar hipnotizada.

Os cheiros condensados
O pulso já meio aberto
Os sentimentos repuxados
Num olhar deserto.

Confortavelmente adormecida
Dormente permanecia o corpo
No seu mundo de fantasia
Jaz o seu príncipe morto.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

animal

Embebedei-me no meu bem-estar
E esqueci o que era essencial
Aquelas doces pegadas à beira-mar
De efeito tão colateral.

Crucifiquei a cruel bruxaria
E atraiçoei o meu passado
Eu prometi que não fugiria
Do meu pântano, outrora um doce lago.

Embruteci-me pelo impulso
E julguei-me com uma culpa visceral
Sou um escárnio que repulso
E que me torna um estúpido animal.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

pacto com o diabo.

Ele só queria alimentar-se
E não era difícil de o fazer
Dois milénios a sujeitar-se
A pactos fáceis para comer.

Em troca da vida mortal
Ele implantava a imortalidade
Ao atravessar o portal
Da imoralidade...

Feito o pacto distorcido
A assinatura em molde italiano
O diabo distraído
Soltou o riso tirano.

Tocou notas sublimes
Ao usufruir dos mortos
“Agora tu comprimes
O rejubilar dos abortos”.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

sonho do beco

Fora colocada num colégio interno
No qual as professoras eram simples freiras
Foi por vontade de um ente paterno
Um labirinto, envolvendo barreiras.

As salas de aula repletas de cadeiras prisionais
Equipadas para prender as suas presas
O nudismo transformou-nos em animais
Os corpos torturados com tochas acesas.

Na ida de regresso às jaulas sensuais
A castidade corrompida pelo abuso
os dormitórios onde não se dorme mais
um mero mal-entendido confuso.

Lembro-me ainda dos cheiros mortais
O ar quente de aroma a sémen seco
A carne queimada, vomitado, tão habituais
Foi este o meu sonho do beco.