quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Bom dia

Um bom dia sonolento
Com beijinho no nariz
Desenha-se a preceito
Na simetria da matriz

A cavidade, o pescoço
A fragilidade de um toque
Sensibilidade daquele troço
Fá-lo vibrar a trote.

Abaixo, o ombro
Magnífica linha de pele
Parte erótica do tronco
Haja o beijo que a cele.

A magnitude dos quadris
A vontade de usar a mão
Quando até os lábios subtis
Sentem o doce do algodão.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O mais alto homem salivou
De gula se incentivou
Ao ver a pureza da menina
A mais inocente alma altiva.

A imaculada princesa olhou
Tremeu, ao ver o perigo
Mal ela sabia o que lhe calhou
Quando cruzou o olhar bandido.

Ninguém por perto se importou
Os gritos de socorro e de pânico
O homem, mal a violou
E da menina brotou o sorriso satânico.

Hoje em dia já é adulta
Fria, e até cruel
A inocência mais oculta
Tão frágil como papel.

Loucas, as vozes colossais
Ela, um sorriso descontrolado
Eles, com olhares sensuais
E o sentimento desligado.

Entrelaçam os pontos sexuais
Desenham linhas eróticas
O suor, os tremores corporais
Banhando-se em frios transversais
Abraçando entidades platónicas.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Néctar

Um dia conheci o sabor
O misterioso néctar proibido
Através do pecado, o castigo, a dor
Bem como do saber mais vivido.

Tropecei, então, no óbvio
Fiz-me entender, em vão
Tive os olhos vermelhos do ópio
A morfina e o vinho carrascão.

Brincadeira puxa brincadeira
E os anos vão passando
Como que água a correr da torneira
Ou a nuvem que se vai libertando.

Mais um bafo, mais uma passa
Mais um cigarro fumado
A vida que me enlaça
Cheira a charuto queimado.

Os vícios mais cruéis
A vergonha alheia
A pele que hoje lambeis
Sabe ao doce néctar de abelha.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Ainda sei tão bem o cheiro do teu quarto

Ainda sei tão bem o cheiro do teu quarto
Bem como a assinatura do nosso contrato!
Oh! Esquecer a cama fora do estrado?
Quando adormecias a meu lado...

Criámos um mundo!
Ai, se criámos...
O teu corpo no meu,
moribundo...



Meu Deus, era o pináculo!

Do tempo... Sim! Do tempo só nosso
Não morria nem andava
Tinhamo-lo em nossa posse!



Perdoa-me a indiscrição da saudade permanente
Ai, mas que insistente!
Tê-la-ei guardado em minha mente?
Não tenciono que seja para sempre!



Mudemos e recomecemos
Algo que em tempos abandonámos!



E que saudades terei eu, que não tenhas também?
Não acredito!
Eu só quero a oportunidade, oh, que quero mesmo!
Perdoa-me a indisciplina descomunal, está-me a dar para estes lados...
Que hei-de eu fazer se não dar ouvidos a estes meus quereres mais profundos?


O medo não será só teu...
Tentemos!
Quiçá não haverá melhores dias?

segunda-feira, 2 de abril de 2012

o morto já não sabe amar

Quebra-se o olhar mais sabido
Por mera coincidência do destino
Culpa deste ciúme corrompido
Oh! Príncipe tão cristalino

Ah! O ser resgatado
De sentimento variado
Rasgou o lábio já gretado
E teve que o provar

Ai! Pelo cálice sagrado
Escorreu o líquido envenenado
Jaz o defunto embriagado
Hoje dorme no mar

O vento desenfreado
De costume lambuzado
Levitou o corpo no ar

Brincou no céu nublado
Feito menino engraçado
De costume enganado
O morto não sabe amar.

sábado, 18 de junho de 2011

Estado morto

Os comprimidos eram rosados
a garrafa estava vazia
A vontade dos condenados
Era a de morte em razia.

Os olhos já semicerrados
A boca um tanto espumada
Deitada em papéis embrulhados
Parecia estar hipnotizada.

Os cheiros condensados
O pulso já meio aberto
Os sentimentos repuxados
Num olhar deserto.

Confortavelmente adormecida
Dormente permanecia o corpo
No seu mundo de fantasia
Jaz o seu príncipe morto.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

animal

Embebedei-me no meu bem-estar
E esqueci o que era essencial
Aquelas doces pegadas à beira-mar
De efeito tão colateral.

Crucifiquei a cruel bruxaria
E atraiçoei o meu passado
Eu prometi que não fugiria
Do meu pântano, outrora um doce lago.

Embruteci-me pelo impulso
E julguei-me com uma culpa visceral
Sou um escárnio que repulso
E que me torna um estúpido animal.